abril 26, 2016

Ruínas novíssimas: é preciso é estilo

(Largo Senhora-A-Branca, Braga - 25/04/16)

À primeira vista nem se nota – dir-me-ão. Nem à segunda vista. "Se puderes olhar, vê. Se podes ver, repara”, dir-nos-ia então Saramago. Trata-se de um imóvel (vamos chamar-lhe assim), trancado a cadeado (não vá alguém entrar à procura de um tecto), e com as janelas com cortinados de cimento. A pintura confere-lhe a descrição que o roubará aos nossos olhares, e nem o chegaremos a ver, quanto mais nele reparar. É um edifício emparedado na sua inutilidade. É preciso é estilo, cantam os Mão Morta. Eles lá sabem. E conhecem muito bem Braga. 

(da série ruínas)

abril 19, 2016

em actualização


O esporte do impeachment é jogado por equipas munidas de cacete, e mesmo com o recurso a imagens em slowmotion devidamente aumentadas não se consegue vislumbrar qualquer arbitragem. Das forças policiais e militares se tem feito chamamento, umas vezes para recordar tempos saudosos, outras para engalanar a grande cruz da ordem da corrupção. Afinal são duas grandes e coloridas torcidas, sem contar com evangélicos, bailes funk e acampamentos caipirinha. Tem até gente disfarçada de manifestante. O país do carnaval é um carnaval de país. Vai ter turista para fotografar…

abril 13, 2016

A arte da dedicatória


Da série de factos inexplicáveis que são o universo ou o tempo, a dedicatória de um livro não é decerto o menos secreto. Define-se como uma dádiva, um presente. Salvo no caso da indiferente moeda que a caridade cristã deixa cair na palma do pobre, qualquer verdadeiro presente é recíproco. O que dá não se priva do que dá. Dar e receber são o mesmo.
Como todos os actos do universo, a dedicatória de um livro é um acto mágico. Também seria lícito defini-la como o modo mais grato e sensível de pronunciar um nome. Eu pronuncio agora o seu nome, María Kodama. Tantas manhãs, tantos mares, tantos jardins do Oriente e do Ocidente, tanto Virgílio. 

Inscrição, in "A Cifra" (1981), Jorge Luis Borges. 

abril 12, 2016

"Fumar pode matar. Não fumar também."


Tabaco em Latim é Nicotiana tabacum, vocês não sei. Considerem-se apresentados.


Os fumadores fazem sexo antes do cigarro, ao contrário dos não-fumadores.


Ética aplicada a fumadores e não-fumadores: Não devemos discriminar nem censurar. Os julgamentos morais são dispensáveis. Para julgar os não-fumadores existem os tribunais.


A tosse nocturna é a dor de cabeça que os pulmões inventam quando não querem ter relações com o tabaco.


Os cigarros electrónicos são como a inseminação artificial: perde-se a melhor parte.


Não fume em jejum. Comece por mascar uma porção de tabaco.


A expressão «fumar o cachimbo da paz» nunca trouxe miséria ao mundo.


Se fumar no quarto, tenha sempre uma cama ao lado do cinzeiro.

"Ética a Nicotinómano", daqui.

abril 11, 2016

abril 08, 2016

É a tua cara chapada


No século XIX tínhamos as bengaladas distribuídas na avenida, delas nos fala o Eça; ou a força do cacete, cujo passe fino nos é contado bastas vezes pela pena do Camilo. Agora chegam-nos as bofetadas por faicebuque, algumas cuja promessa nos remete para a expressão: cão que ladra não morde. Na minha terra chamam-se chapadas. Ou lostras. Falta-nos um escritor para penar estas dores que carregamos. Falta-nos, sobretudo, paciência. Não sei é se faz falta mais um ministro da cultura. Nem sei se havia algum…ministro…ou…cultura. Sei que faz falta dinheiro no bolso. Quanto mais não seja para comprar os cacetes ou as bengalas. 

abril 04, 2016

Notai a pele enrugada


(...) do ponto de vista metafísico o Oriente está sempre em estado de ebulição tranquilizadora; e no dia em que nele a pele de chagrém dos princípios for seriamente enrugada, então toda a face do mundo engelhará, todas as coisas se abeirarão do seu fim; e esse dia deixou de parecer-me distante.

abril 03, 2016

Tens por aí um carregador?

(gag)

As minhas últimas contribuições no blogue insustentável: um, dois e três...

Os tais regimes pragmáticos

(luz)

Na verdade, se investem em Portugal, pagam pelo menos o direito de não serem tratadas como ditaduras, apenas “Estados africanos em construção”, importantes motores de negócios, países mais ou menos exemplares. (afirma Pereira